A rotina de treinos é dura. Muito suor, cansaço, falta de tempo e até de disposição. Tem todo o planejamento e chega o dia da prova. Acordo muito cedo, com a ansiedade de sempre. Hora da largada, e lá vamos nós. Dói tudo, esforço acima do normal, mas cadê elas? Procuro as lentes desesperadamente. Vejo a primeira e abro um sorriso, “click”.
Para o segundo fotógrafo, um tchauzinho e sigo em frente. E assim vai, até o final. Foram 10 fotos ao total. São quatro ou cinco dias para as imagens entrarem no ar (no site da prova). Parece um mês, mas lá está a confirmação de que realmente participei. Compro as melhores e espero o recebimento. Coloco uma moldura bem legal, preguinho na parede, escolho o lugar certo, na posição correta. Agora é só esperar...
A reação delas é incrível. A foto fica ali, estrategicamente posicionada, “como quem não quer nada”. O olhar da gata, entrando pela primeira vez no apartamento é de extrema curiosidade. Ah, como as mulheres são curiosas... Colocá-las no hall de entrada pareceria um pouco exagerado, mas o olhar é perspicaz e rápido. “Sem querer” dão de cara com a primeira foto: eu, com cara de atleta, com roupa de atleta, com pinta de atleta, muito concentrado em cima da bike, olhar fixo, cara séria. Os olhinhos brilham e uma sensação de que estou indo bem começa a dar confiança. “Você faz triatlhon?”
Pobrezinha, não sabe a menor diferença entre o Short e o Iroman, acham que todos são como este segundo. Seria como me perguntar a diferença entre as cores salmão e rosa!
A resposta é humilde e despretensiosa: “Faço, mas sou muito ruim...”. Quase leio no seu pensamento “ruim nada”. Mais um passo e lá estou eu de novo, dessa vez na maratona, com um belo sorriso, explico rapidamente a historinha da foto, que quase morri, que estava frio, essas coisas. Nada demais, são apenas 42km. “42km? Nossa!” Não que ela entenda a dificuldade de completar a distância, mas ela já tem certeza que se trata de um atleta! Um verdadeiro esportista! Não me sinto culpado, cada um engana com as armas que tem. Eu faço isso, elas fazem escova, chapinha, é justo e recíproco.
É inegável que isso dá certo. Pode ser que algumas não liguem, fiquem indiferentes mas, na dúvida, não faz mal tentar. E quando me perguntam se faço triathlon, eu respondo sem medo de errar: “Não, faço marketing”. Quais são meus objetivos? Ora essa, sempre os mesmos, em todas as modalidades da vida. Esqueça o tempo, esqueça o podium, o que vale é a medalhinha no peito e a foto pendurada na parede!
Victor Nicolau
Ex-atleta amador