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   Respondendo à minha consulta, o cara falou: "Acho que você não consegue chegar ao final, eu te conheço, é melhor deixar pra lá, você faz outra prova mais no final do ano, essa não vai conseguir...".

 

   Só que ele não sabia que essas palavras, além de despertarem meu bicho interior, me sacudiram na direção de um objetivo e ainda fizeram este cabeçudo querer provar quem conhece quem.

 

   Tinha apenas cinco meses de treino, depois de um ano parado com uma fratura de pé, um tendão de braço rasgado no meio do caminho, além da habitual gripe cavalar que sempre acontece no meio dos treinos para uma maratona.

 

   Procurei os caras para me ajudarem a chegar lá. Foram meses de treinos intensos, cuidadosos, atenciosos e fundamentais pra alguém ferido. Os caras mandaram muito bem!

 

   Dediquei-me até não mais poder, treinei escondido fora de planilha, puxei mais do que deveria, o ombro doía muito, mas não entreguei. Ok, somente uma vez, quando a moça me pegou no pulo, aí nem deu pra disfarçar.

 

   Fui me preparando, até achei que voava um pouco (rs). Puro engano, como veria mais tarde. De treino em treino, de sabadão em sabadão, chegou o dia. Bienvenue à Paris!

 

   Largada com temperatura não muito fria, indicava calor no meio da prova e foi o que aconteceu. Início com ritmo legal, dentro do objetivo ideal. Tudo funcionava bem e estava feliz. Encontrei os baianos com a roda de berimbau, e diferentemente da última vez, quando o ponto que tocavam e cantavam funcionou como um mantra em direção à chegada, desta vez funcionou de outra forma.

 

   Estava no quilômetro 30, quando o velho ombro sexagenário resolveu me desobedecer e quis mostrar quem mandava em quem. Juntos chegaram o calor, o vento quente, a câimbra e a descompensação total. Tudo doía, nada resolvia e, naquela altura, somente me restava pensar em chegar. Não importava em que tempo, não importava mais nada. Agora, chegar era o foco principal, como mandava o toque de berimbau dos baianos: "pisa devagar, pisa devagarinho e vai em frente...".

 

   Cinco horas depois da largada, cheguei! Dolorido, esgotado, mas feliz, muito feliz. Já nem lembrava do cara que não acreditava, mas lembrei muito dos caras que acreditaram e agradeci. Foi a minha melhor prova e a minha pior prova! Disney que me aguarde!

 

Gregório França

PARIS - MINHA  MELHOR  E  PIOR  PROVA 

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